quarta-feira, 30 de abril de 2014

Depois um operário lhe disse: Fala-nos do Trabalho.


 

E ele respondeu, dizendo:
Vós trabalhais para poder manter a paz com a terra e a alma da terra.
 
Pois ser ocioso é tornar-se estranho às estações e ficar afastado da procissão da vida que marcha majestosamente e com orgulhosa submissão em direção ao infinito.
 
Quando trabalhais sois uma flauta através da qual o sussurro das horas se transforma em música.
 
Qual de vós quereria ser uma cana muda e silenciosa, quando tudo o resto canta em uníssono?
 
Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição e o labor um infortúnio.
 
Mas eu digo-vos que quando trabalhais estais a preencher um dos sonhos mais importantes da terra, que vos foi destinado quando esse sonho nasceu, e quando vos ligais ao trabalho estais verdadeiramente a amar a vida, e amar a vida através do trabalho é ter intimidade com o segredo mais secreto da vida.
 
Mas se na dor chamais ao nascimento uma provação e à manutenção da carne uma maldição gravada na vossa fronte, então vos digo que nada, exceto o suor na vossa fronte, apagará aquilo que está escrito.
 
Também vos foi dito que a vida é escuridão, e no vosso cansaço fazeis-vos eco de tudo o que os cansados vos disseram.
 
E eu digo que a vida é mesmo escuridão excepto quando existe necessidade, e toda a necessidade é cega exceto quando existe sabedoria.
 
E toda a sabedoria é vã exceto quando existe trabalho, e todo o trabalho é vazio exceto se houver amor; e quando trabalhais com amor estais a ligar-vos a vós mesmos, e uns aos outros, e a Deus.
 
E o que é trabalhar com amor?
 
É tecer o pano com fios arrancados do vosso coração, como se os vossos bem amados fossem usar esse pano.
 
É construir uma casa com afeto, como se os vossos bem amados fossem viver nessa casa.
 
É semear sementes com ternura e fazer a colheita com alegria, como se os vossos bem amados fossem comer a fruta.
 
É dar a todas as coisas um sopro do vosso espírito, e saber que todos os abençoados defuntos estão à vossa volta a observar-vos.
 
Muitas vezes vos ouvi dizer, como se estivésseis a falar durante o sono, "Aquele que trabalha o mármore e encontra na pedra a forma da sua própria alma é mais nobre do que aquele que trabalha a terra.
 
E aquele que agarra o arco-íris para o colocar numa tela à semelhança do homem, é mais do que aquele que faz as sandálias para os nossos pés."
 
Mas eu digo, não no sono, mas no despertar, que o vento não fala mais documente com o carvalho gigante do que com a mais ínfima erva; e é grande aquele que, sozinho, transforma a voz do vento numa canção tornada doce pelo seu amor.
 
O trabalho é o amor tornado visível.
 
E se não sabeis trabalhar com amor mas com desagrado, é melhor deixardes o trabalho e sentar-vos à porta do templo a pedir esmola àqueles que trabalham com alegria.
 
Pois se fizerdes o pão com indiferença, estareis a fazer um pão tão amargo que só saciará metade da fome.
 
E se esmagardes as uvas de má vontade, essa má vontade contaminará o vinho com veneno.
 
E se cantardes como anjos mas não apreciardes os cânticos, estareis a ensurdecedor os ouvidos do homem às vozes do dia e às vozes da noite.
 
 
 
                                    Walter Monteiro


Do livro “O Profeta”   (sem indicação de tradutor)

Créditos:

http://www.clube-positivo.com/biblioteca/pdf/profeta.pdf



domingo, 27 de abril de 2014

PASTOR, QUE HOMEM É ESSE?

PASTOR, QUE HOMEM É ESSE?
* Pr. Jair Souza Leal.
            O pastor é um soldado em combate. Ele vive cercado de inimigos por todos os lados; inimigos gigantes.
            Cercado por dentro. Ele tem de lutar contra os próprios medos; os próprios pecados; as próprias fraquezas, desejos e angústias. Tem de lutar contra a solidão (a qual sua posição muitas vezes o leva). Tem de lutar contra a própria insensatez, impaciência e incompetência. Tem de lutar contra as necessidades materiais, conjugais e familiares.
            Cercado a esquerda. Ele tem de lutar contra as vãs filosofias e sutilezas malignas que adentram o rebanho para dispersar as ovelhas, confundir, corromper e distorcer a verdade, à qual têm por missão defender. Ele tem de lutar contra os falsos ensinos, que mantêm prisioneiras do engano  as pessoas que precisa alcançar.
            Cercado a direita. Ele tem de lutar contra a ingratidão do povo, a incompreensão e a crítica (característica comum daqueles por quem está dando o sangue).
            Cercado por trás. Ele tem de se defender dos companheiros que, apesar de estarem na mesma frente de batalha, atacam-lhe pelas costas como se inimigos fossem.
            Cercado na frente. Ele tem de lutar contra os prazeres que o mundo oferece para seduzir as pessoas, pois a sua missão é cuidar, defender, resgatá-las. Tem de enfrentar ainda a indiferença, a apatia e a falta de entusiasmo dessas pessoas para com as coisas de Deus; tentando motivá-las.
            Cercado por baixo. Ele tem de lutar contra o diabo e as suas hostes malignas, que fazem oposição a Deus e à sua obra; a qual foi ele constituído fiel depositário.
            Como se não bastasse à luta, esse homem é cobrado por Deus, pela sociedade, pela sua denominação, pelo seu rebanho, pelos colegas de ministério, pela família e até por si próprio.
            Este homem não pode esperar recompensas enquanto batalha. Ele sabe que só será recompensado após o fim da guerra, quando encontrar-se pessoalmente com o seu General. Quem pode suportar tamanha luta tamanhos inimigos e tamanha pressão? Quem é suficiente para essa batalha? Eclesiastes 9.10 diz: "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças...". Mas esse homem sabe que a missão que lhe foi confiada por Deus está muito além das suas forças. Ele tem consciência que, como Davi, sozinho, jamais poderá vencer o gigante que amedronta todo o exército; só poderá vencer se for pela força do Senhor!  Então, o pastor é um soldado valente, porém, fraco. Ele está cônscio das próprias limitações; mais do que qualquer outra pessoa. Mas, como Paulo, o apóstolo, sabe que o poder de Deus se manifesta e se aperfeiçoa na sua fraqueza. (II Coríntios 12.9)  Por isso, toda a sua força é extraída exclusivamente da graça que há em Cristo. Apegado a essa graça ele sofre todas as aflições, como bom soldado, na certeza de que um dia triunfará, marchando vitorioso ao lado do seu General!

 pastor da Igreja Batista Memorial Unida em Contagem/MG, bacharel em Teologia livre, docente em Teologia/Proveito pela FBMG, mestrando em Ciências da Religião pela PUC/MG, escritor, advogado. Contatos: jairsouzaleal@hotmail.com